Crônicas #2

Hoje a Crônica vem do Livro "Apaixonada por Palavras" de Paula Pimenta. E vai ser colorida, que nem o livro e em homenagem à autora.
Escolhi esta pois me identifiquei, demais, com todas as palavras que a autora colocou naquele texto. 
E, incrivelmente, é possível que tenha feito eu mudar a maneira com que eu mesma me enxergava até o momento de lê-la, espero que ela consiga esse efeito em quem está precisando daquela força! <3

Gorducha, Baixinha e Dentuça.

Paula Pimenta.

Nunca me acho bonita o suficiente, sempre penso que tenho mais o que melhorar, por isso encontro a cada minuto um novo defeitinho para reformar, com o intuito de tornar o meu “layout” mais atraente.

Emagreço 3kg, deixo o cabelo crescer, compro roupas novas... Olho no espelho. Me esqueci das sobrancelha, pinça nelas. Curvex para os cílios parecerem maiores. Muita maquiagem não. BELEZA TEM QUE SER SINCERA. No máximo um rímel e um brilho nos lábios, só pra despertar a sua vontade de me beijar.

E lá vou eu, em sua direção.

Treinei tantas vezes o mesmo sorriso, e o que vou dizer já está decorado. Alguém passa por mim com olhar de aprovação.  Autoestima abastecida. Me posiciono no local de melhor visibilidade. E é quando você aparece.

De repente, eu viro novamente aquela garota de 13 anos, gorducha, baixinha e dentuça (raios, eu deveria cobrar direitos autorais do Maurício de Sousa, a Mônica era eu!). Volto naquele exato dia em que eu estava me achando linda e um menino passou de bicicleta e me chamou de gordinha, levando lágrimas aos meus olhos. Eu volto aos meus 15 anos, quando eu já tinha me obrigado a emagrecer milhões de quilos, mas ainda usava aparelho nos dentes e não sabia como andar com minhas pernas compridas, que tinham crescido de uma hora para outra... E volto naquele dia em que a paixão da minha vida daquele mês beijou a menina mais bonita do mundo na minha frente. E é quando você passa. Estou com as roupas que me caem bem, o sorriso sem um dente fora do lugar, tenho o cabelo no comprimento exato e até gosto do meu corpo. Nada basta. Ainda acho que só te atrairia se eu me chamasse Gisele Bundchen. Sigo sua aparição, e, de repente... você dá a mão para uma baixinha. Olhando atentamente ela é também gordinha. E tem os dentes tortos! Pra que eu mudei tanto? Devo voltar ao que era aos 13 pra você gostar de mim?

Remexo nos ensinamentos da vida e me lembro de uma lição que eu nunca tenho a chance de aplicar, devido à preocupação exagerada com a aparência. Espontaneidade  é o que desperta atenção. Improviso surte muito mais efeito do que cenas marcadas. Poderia ter aproveitado melhor o meu tempo descobrindo aquela forma de te mostrar meu mundo interior, o que existe dentro da embalagem.

E continuo parada, te vendo passar com ela, esquecendo que modelos são feitas para serem admiradas, mas na hora em que o desfile acaba, o moço pega o telefone e liga é para a sua namorada real. Baixinha, dentuça e gorducha. Mas que se acha linda. E, com isso, acaba fazendo com que o mundo a veja assim também...